A arquitetura vernacular é uma nomenclatura dada para construções feitas com os materiais e recursos locais disponíveis para a concepção. Envolvendo tradição, cultura e a expressão de quem faz, a arquitetura vernacular brasileira, assim como em outros locais, é estigmatizada infelizmente como algo “primitivo” e “inferior” em relação a outros modelos arquitetônicos como, por exemplo, a arquitetura gótica e clássica. Entretanto, essa técnica na verdade considera os aspectos geográficas e culturais do entorno da construção, em prol de gerar um sentimento de pertencimento e reconhecimento da identidade de quem mora ali.
As discussões acerca desse tópico começaram a estar em alta após o ano de 2006, quando o historiador Paul Oliver publicou o seu livro “Built to meet needs: cultural issues in vernacular architecture”, também conhecido no Brasil como, “Construído para abraçar as necessidades: os problemas culturais na arquitetura vernacular”. Fruto do projeto “Enciclopédia da Arquitetura Vernacular do Mundo”, a pesquisa categorizou a arquitetura vernacular como uma forma de construção elaborada para atender as necessidades específicas, financeiras e o modo de vida das culturas que as produziam.
O doutor em estudos urbanos Rubenilson Brazão Teixeira, em artigo para o portal vitruvius, sintetiza a arquitetura vernacular em duas características principais: tradição e contextualização. No texto, ele afirma que toda a arquitetura vernacular é tradicional no sentido de que surge de um determinado povo e se desenvolve como resultado de um longo processo temporal, sempre a partir de formas familiares, consagradas por gerações anteriores. Junto a isso, há também na arquitetura vernacular, o respeito às condições locais, destacando sua grande sensibilidade diante do contexto geográfico onde está inserida incluindo clima, vegetação e topografia.
No Brasil, a arquitetura vernacular teve início com os povos indígenas durante a pré-colonização. Devido à grande pluralidade das tribos, os indígenas construíam casas baseadas em seus costumes, culturas e rotinas; e por isso elas não eram completamente uniformes. Uma das construções vernaculares mais presentes na cultura indígena são as ocas, que geralmente eram executadas em madeira com entalhes para encaixes e amarras.
Apesar disso, a arquitetura vernacular não se restringe somente às obras ancestrais. Por todo o território nacional há atualmente casas sendo construídas em palafita, madeira, pedra, tijolo, taipa de mão e taipa de pilão, que podem ser classificadas como vernáculas. Um bom exemplo disso são as favelas. Construídas pela comunidade para a própria comunidade, as favelas são um dos pontos mais marcantes da arquitetura brasileira e representam o tipo de construção que é pensada, idealizada e concebida pelos indivíduos, antes mesmo de ser de fato executada.
Entre 2019 e 2021, por exemplo, o coletivo LEVANTE utilizou de práticas vernaculares para revitalizar um prédio no Aglomerado da Serra na favela de Belo Horizonte. Denominado como “Centro Cultural Lá da Favelinha”, o projeto desejava reafirmar a culturalidade daquela região e dar um novo significado para aquele lugar que remetia a abandono. Através de designers e bordadeiras, o coletivo conseguiu elaborar um dos pontos principais do projeto: uma fachada vazada totalmente em tecido com uma boa ventilação e iluminação para a construção.
De modo geral, a arquitetura vernacular não é somente sustentável, como fornece ferramentas para que sejam desenvolvidas construções sustentáveis através dos materiais locais – o que reduz o transporte de insumos e, consequentemente, a emissão de gases. Apesar disso, é importante ressaltar que essa prática não deve ser romantizada, afinal, muitas pessoas ainda hoje utilizam a arquitetura vernacular para construir habitações mais acessíveis e em lugares de risco para sobreviver.
